O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mau Humor


            “Coisas que eu odeio

            Um estudo feito por mim.
           
            Eu oficialmente odeio:
            - Pessoas que param na frente da catraca e começam a procurar seus bilhetes.
            - Pessoas que sentam ao meu lado no metro
            - Pessoas que sentam ao meu lado no Onibus
            - Odeio quando garotas bonitas NÃO sentam do meu lado no ônibus ou metro.
            - Pessoas que andam mais devagar que eu na minha frente
            - Pessoas que andam erroneamente na minha frente
            - Pessoas que usam Nextel
            - Pessoas que são metidas a nerd
            - Pessoas que reforçam o quanto são nerd
            - Pessoas que só conseguem falar de assuntos nerd para lembrar os outros que eles são nerd
            - A moda de ser nerd
            - Seriados que retratam o modo de vida “Geek”
            - Pessoas que usam o termo “geek”
            - Pessoas que só gostam de filmes independentes
            - Pessoas que se acham “cult” e , por isso, só gostam de filmes independentes
            - Pessoas que valorizam “A Arte” (odeio esse termo)
- Pessoas com sorrisinho de “Mas você não está entendendo”
- Pessoas que respeitam sua opinião, mas acham que você está absolutamente errado.
- Pessoas que estão sempre certas
- Pessoas que tomam partido em algo e quando confrontadas ficam em cima do muro
- Pessoas que reclamam e não fazem coisa alguma para mudar
- Pessoas que reclamam de falta de dinheiro, mas compram celulares, comem em restaurantes japoneses e compram bonecos caros
- Pessoas que deixam de sair com os amigos na ultima hora por que agora vão sair com um cara ou moça
- Pessoas que só pensam em sexo
- Pessoas que acham que estão inovando usando idéias velhas
            - Jogos de um jogador apenas
            - Todo Final Fantasy depois do X
            - Pessoas que assistem reality shows
            - Pessoas que se espelham em celebridades
            - Pessoas que tem cortes de cabelo de celebridades
            - Pessoas que me chamam pra sair TODA hora com TODO mundo em TODO lugar.
            - Pessoas que acham que sou “Lustrador”
            - Pessoas que só escolhem o que pedir quando o caixa os atende dizendo “Olá, qual o seu pedido?”. Ele teve durante a fila toda para escolher.
            - Pessoas que reclamam da velocidade do atendimento, logo depois de o item acima ter entrado em efeito
            - Pessoas que fazem pedidos compridos
            - Quando meu hambúrguer triplo vem duplo, na verdade
            - Quando a coca-cola acaba
            - Pessoas que não educam seus filhos
            - Pessoas que não dão a mínima para o caos que os filhos estão causando
            - Pessoas que...”
            E foram estes alguns dos itens de uma grande lista que o Artista escrevera durante um dia de muito mau humor.

            Seus pensamentos continuariam, não fosse ele interrompido pela presença da Cineasta. Ela o olhava de cima enquanto dava goles em seu cappuccino fazendo um burburinho leve. Ele parou e esperou ela sair, mas ela disse:
            - Também odeio pessoas que só gostam de filmes independentes.
            Ela o olhou e sorriu.
            - Eu odeio muitas coisas eu acho... – Disse ele com um semblante franzido.
            - Na verdade você odeia pessoas.
            - Acho que sim... – Ele levantou o papel para analisar sua obra.
            - Mau humor sempre é saudável... – Ela parou e pensou bem. – É... acho que é mesmo.
            Ele se levantou, se dirigiu ao mural do café e pendurou sua folha lá. A Cineasta riu.
            - Para que os outros apreciem um pouco de ódio. – Ele disse dando uma risada baixa.
            Os dois riram e foram tomar café juntos. Afinal, era uma noite fria e nada esquenta mais do que um pouco de mau humor compartilhado e apreciado.

"Ele se levantou, se dirigiu ao mural do café e pendurou sua folha lá."

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Prodígios


            Crianças. Todos já fomos um dia. E sempre nos lembramos com muito gosto de todas as aventuras daquela época. Quando nos lembramos sempre damos risadas, sentimos saudades, lembramos de brigas, disputas e raivinhas infantis, mas desta vez com um sorriso no rosto, pois sabemos o quanto éramos inocentes e bobos. O problema é que, ninguém sabe aproveitar a própria época, então, para uma criança, ser criança é um saco. Para alguns, pelo menos.
            Gregório estava no Café do Geléia. Sentado em uma mesa qualquer, mal balançava os pés que não tocavam o chão enquanto quase afundava a cara em um livro que, para a sua idade, era muito grande. Geléia até pensou em perguntar o que o garoto estava lendo, mas, percebendo a concentração do menino, não quis atrapalhar. Além disso, ficou admirado com o tipo de leitura do garoto. Quando o garoto percebeu o gerente passando com cafés em uma bandeja, logo o chamou para perto.
            - Por favor, Geléia... Poderia trazer dois achocolatados com chantilly?
            Geléia memorizou o pedido e seguiu seu rumo. Microssegundos depois perguntou ao garoto o por que de dois achocolatados.
            - Estou esperando a Thelma... Combinamos de estudar hoje. – Explicou Gregório.
            O Gerente seguiu seu rumo e sorriu um sorriso simples que expressava admiração pela atitude dos meninos. Quisera ele ter esse tipo de disciplina quando mais jovem.
            Pouco tempo depois, quando Geléia estava trazendo as bebidas, Thelma cruzou a porta em passos rápidos e pouco espaçados. Ela estava com uma cara apertada e azeda, como se tivesse acabado de chupar um limao.
            - Boa tarde, Geléia. Obrigado! – Disse ela enquanto subia na cadeira e colocava os óculos sobre o nariz. – Deu uma olhada nos tópicos e exercícios que vamos estudar hoje? – Perguntou para Gregório enquanto abria seu caderno em cima da mesa.
            Ele respondeu com uma afirmação sonora sem nenhum entusiasmo e apoiou a bochecha na mão. Thelma suspirou e, mesmo tendo colocado os óculos a pouco tempo, os retirou e massageou entre os olhos.
            - Temos mesmo que fazer isso? – perguntou se apoiando na mesa.
            - Se quisermos manter nossas notas, sim. – Gregório quase fez um sacrifício para levantar os olhos em direção a sua amiga para responder tristemente.
            Os dois concordaram soltando um barulho de frustração enquanto voltavam seus rostos para os livros. Não mais do que de repente, a porta do Café se abre rapidamente e entram correndo o Menino Ottis e K.D., os dois rindo.
            - Rápido, Geléia! Precisamos de um cronômetro e barras de chocolate!
            Geléia foi até os fundos e voltou com um cronômetro velho, mas funcional.
            - Não sei o que pretendem fazer com isso, mas devolvam sim? E os chocolates, vocês sabem o quanto custam. – O sorriso parecia nunca deixar seu rosto.
            Os garotos compraram os chocolates e saíram correndo em direção à porta e só gritaram “Oi” para seus amigos enquanto saíam empolgados para a calçada. Gregório e Thelma olharam pela janela e viram K.D. erguer o capacete de Jiraiya até a altura da boca para engolir quase que imediatamente uma barrinha de chocolate. Depois Menino Ottis começou a rodá-lo rapidamente enquanto os dois riam. K.D. girou muito e quando parou, Ottis começou a cronometrar enquanto o amigo se esforçava para ficar em pé enquanto cambaleava. Muitas risadas e alguns segundos depois, K.D. vomitou no chão e se recostou em um muro enquanto tentava se recompor. Ottis gritou o tempo que o garoto aguentou.
            - Olha só aqueles dois... Poderíamos estar lá com eles. Acho que eu preferiria estar vomitando do que estudando para essa prova chata. – Lamentou Thelma passando a mão no vidro da janela.
            Gregório se ajeitou em seu assento e tentou soar como um herói:
            - Não podemos fraquejar, Thelma! Por mais que eu goste do Ottis, temos que admitir que, as vezes, o intelecto do nosso amigo é meio limitado. Nós somos muito mais inteligentes e as pessoas esperam muito de nós! Eu preciso tirar um 8 nessa prova ou a minha mãe vai me deixar longe de vocês por pelo menos três semanas...
            Thelma se sentou emburrada.
            - Odeio o fato de as pessoas terem expectativas em cima de mim... Sou só uma garotinha! Eu devia estar brincando de bonecas, comendo chocolates e vomitando... – Ficou pensativa. – Talvez não essa última, mas eu com certeza não deveria estar me preocupando em tirar um 7...
            - Enquanto formos melhores que o resto... Vamos ter que nos contentar com isso...
            E os estudos continuaram, enquanto ao fundo risadas e giros eram cronometrados.

            Depois de um bom intervalo de tempo, Ottis entrou no Café junto com K.D., um apoiado no outro. As risadas estavam diminuindo como um motor desacelerando.
            - Geléia! Dois refrigerantes, por favor!
            - Ottis, essa foi demais! Os resultados foram ótimos! – K.D. disse com orgulho enquanto se esparramava em uma cadeira.
            - Tenho certeza que a professora vai ficar admirada.
            Geléia veio trazendo as latas e logo perguntou do que os garotos estavam falando. K.D. prontamente respondeu.
            - Um pequeno estudo do efeito de velocidade crescente gerando força centrípeta. Não podemos explicar agora... estamos meio cansados...
            - Mas explicamos depois. – Interrompeu Ottis. - Temos que escrever um relatório para a professora mostrar ao diretor. Acabamos com as aulas de ciências, praticamente! – Os dois amigos se cumprimentaram.
            Em meio as mesas, Geléia pode jurar que Thelma derramara uma lágrima de frustração.

"Olha só aqueles dois... Poderíamos estar lá com eles."

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Hobby


            Todo mundo tem um hobby. Seja ele colecionar selos, escrever, ler, cozinhar, desenhar, etc. São diversas as atividades que um único ser humano pode exercer como hobby, aquela atividade prazerosa do pouco tempo livre que eles tem e algumas pessoas levam certos hobbies muito a serio, tornando eles uma profissão.
            O Artista Solitário tentava isso. Desde que começou a se dar por gente ele se lembra de desenhar e, naquela época, quando perguntavam o que ele queria ser quando crescer, ele sempre respondia o mesmo: Desenho animado. O tempo foi passando e ele foi aprendendo sobre esse mundo que ele tanto gostava e as ideias foram mudando, mas nunca saindo da mesma vertente de desenhista. Quando começou a trabalhar não começou diretamente na área, infelizmente, mas em pouco tempo conseguiu algo do tipo. Desde então ele tem trabalhado com livros. Percebeu que gostava muito de ilustração infanto-juvenil, além das ilustrações de mitologia, monstros, espada e magia que sempre desenhou.
            Mas no seu tempo livre o Artista gostava mesmo de ir ao Café do Geléia e desenhar sem propósito. Pegava pensamentos fugitivos e os transmitia para o papel branco. Com tinta preta pintava as sombras de seus sonhos enquanto a tinta colorida dava o contraste necessário para a vida aparecer em uma simples folha. A lapiseira dançava ao ritmo da criatividade e, nunca perdendo o timing, temperava a melodia primordial da criação fazendo a imaginação se avivar em semi-filmes independentes.
            Os que estavam de fora de toda essa ação viam apenas um rapaz solitário, quase com um ar de deprimido, em seu canto com seu caderno de rabiscos que parecia ser seu único amigo. Foi em um dia desses de desenhos que alguém interrompeu o Artista. Ele estava em seu canto tomando seu café e rabiscando o que lhe vinha à mente quando viu um homem entrar no café, um homem do tipo que não frequenta outro lugar que não um Starbucks ou coisa mais chique. Estava usando um sobretudo, cachecol e óculos escuros, o que era ridículo considerando o tempo nublado e o frio lá fora e ele entrou com um sorriso arrogante no rosto e uma sobrancelha levantada. O Artista o detestou.
            O homem foi até o balcão e pediu um expresso. Enquanto esperava tirou o cachecol e se virou de costas para o balcão, observando o movimento com aquele olhar de quem se acha muito superior ao resto do mundo. Não demorou muito para ele se deparar com o Artista e tentar observar o que ele estava fazendo. Decidiu se levantar e ir falar com o jovem rapaz, pois estava apreciando (pelo menos de longe) a qualidade do trabalho sendo feito.
            - Você tem talento, garoto! – Ele chegou já puxando uma cadeira.
            O Artista continuou seu trabalho e respondeu da maneira que achou mais sensata no momento:
            - Uhum.
            O sorriso do homem foi levemente abalado. Ele ajeitou o sobretudo e continuou depois de um leve pigarro:
            - Você já pensou em trabalhar com mídia publicitária? Publicidade está em alta, sabe?
            Se o Artista tivesse uma arma no lugar dos olhos, o homem estaria morto.
            - Não. Estes desenhos que faço são para mim.
            - Mas você é bom! Não acha que deveria mostrar sua arte para o mundo?
O rapaz suspirou, soltou a lapiseira, repousou o caderno e voltou seu olhar diretamente para os olhos obscurecidos do homem.
            - Eu já tenho um trabalho com desenho e quem quiser olhar, olha. Eu não gosto de publicidade e...
            - Mas você poderia ganhar muito dinheiro... – Interrompeu o homem.
            - Eu não estou nessa pelo dinheiro! – Ele logo cortou a frase do homem, fuzilando-o com o olhar. Os óculos do empresário trincaram.
            O expresso que ele havia pedido chegou e antes de Geléia coloca-lo na mesa o homem pediu a bebida para viagem. O gerente voltou ao balcão para atender o pedido.
           
            Com bebida em mãos, o homem se dirigiu à porta e disse para o Artista antes de sair:
            - Odeio ver jovens com talento desperdiçado como você.
            E saiu com o nariz empinado quase acertando o batente da porta.
            Geléia veio na direção de seu jovem amigo e perguntou o por que de ele ter afastado o homem daquele jeito. O Artista disse:
            - Pessoas como ele só pensam em dinheiro e não conseguem pensar como gente igual eu. Eles dizem que meu talento está sendo desperdiçado por que eu não ganho um monte de dinheiro com ele... – Ele pausou para tomar seu café e retomar seu caderno e lapiseira em mãos. – Mas na verdade, eu acredito que meu talento está sendo muito bem utilizado, por pessoas que apreciam de verdade o meu trabalho e principalmente – sorriu – por mim.

"Você já pensou em trabalhar com mídia publicitária? Publicidade está em alta, sabe?"