O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Solidão

            Estou em minha laje. Sempre gosto de vir aqui para pensar. É um espaço grande, coberto, arejado e iluminado de onde posso ver boa parte da cidade. Vejo as torres de ferro, concreto e vidro. Vejo as luzes iluminando a vastidão quase infinita da cidade que consome a terra como um câncer. Um câncer alimentado por desesperança.
            Esta laje era um espaço totalmente aberto onde raramente alguém vinha. Seus únicos visitantes durante a longa semana eram a noite, o dia e um ou outro pássaro que decidia pousar como descanso para um futuro vôo. A laje sempre abrigou uma pequena casinha de concreto, cujo interior consistia de uma cozinha verdadeiramente pequena e as caixas d’água da casa. Eu me lembro de ir lá em cima brincar quando era bem pequeno... iam as crianças da família e os pais e tios. O que nos separava de uma morte certa por queda era um muro que, na minha concepção na época, era gigante. Hoje em dia ele mal dá na minha cintura e confesso que já senti vontade de pular e ver como seria viajar em direção ao concreto em velocidade crescente.
            Eu já senti isso por que, como todo bom ser humano, vira e mexe eu tenho problemas. Problemas com família, com trabalho, com amigos, com a vida em geral. Na verdade, a vontade de pular da laje é por curiosidade (se eu fosse imortal pularia sem hesitar, acredite) e não pelos problemas... Mas é para a laje que venho quando tenho grandes problemas, ok!? Enfim! Sentado aqui mais uma vez eu penso em tudo que se está passando pela minha cabeça e, olhando para a cidade enorme que se estende à minha frente, eu logo penso: “É estranho como a vida e todas as porcarias pela qual ela passa, nos faz sentir sozinhos por mais que tenhamos muito...”.
            Já parou para pensar nisso? Quando você briga com alguém que você gosta, o que você sente além de raiva e depois remorso? Solidão. Quando sua namorada termina com você? Obviamente solidão e tristeza. Quando você é demitido? As vezes um alívio... mas pouco depois, bate uma certa solidão por você estar em casa sendo improdutivo enquanto as pessoas estão atarefadas (obviamente essa solidão vem depois de você se tocar que está desempregado e não de férias...). E você sabe que tem amigos e família... Mas vocês se sente e as vezes quer estar sozinho. Ou não?
            Quando estamos sozinhos parece que fazemos uma autoterapia. Ficamos moendo e remoendo os problemas da vida. Pensando e repensando o que fizemos de errado e então, pensando nisso, voltamos milhares de vezes ao passado enquanto tentamos ver o que diabos deu errado, onde e por culpa de quem! Quando estamos sozinhos podemos falar com nós mesmos sem ninguém para julgar ou dar opinião na discussão da sua mente contra a sua mente. Eu me pergunto, ás vezes, se o efeito dramático de ficar sozinho perto de uma janela em uma laje enquanto chove também é atraente para o ser humano querer ficar sozinho por um tempo.
            Mas de verdade? Eu estou sozinho aqui na laje. Não está chovendo e eu estou próximo da janela segurando um cigarro e ao meu lado tem um gato e um copo de refrigerante. A maioria dos escritores se utiliza de um copo de uísque ou outra bebida e eu fico imaginando se ele é uma melhor companhia do que coca-cola. De qualquer maneira, eu estou sozinho e não queria mais ficar. Tanto que nem sei por que escrevi tudo isso.
            É sério.

"Não está chovendo e eu estou próximo da janela segurando um cigarro e ao meu lado tem um gato e um copo de refrigerante."

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados


            O Dia dos Namorados é uma data no mínimo... Estranha. É nele que temos as mais diversas estórias. Tem pessoas pedindo outras em namoro, tem pessoas comemorando X anos de namoro, tem pessoas fazendo uma comemoração mesmo estando casados, tem pessoas tirando o “atraso” com amigos ou com pessoas cujas profissões lidam com este tipo de coisa. Temos inclusive pessoas terminando namoros nesse dia!
            Temos pessoas muito felizes de um lado comemorando com seus amados, ou criando coisas novas com paixões recém descobertas, ao mesmo tempo que temos pessoas cansadas do relacionamento, mas fazendo ainda comemorações e ainda, ao mesmo tempo, temos pessoas que não estão nem aí para essa data. E nunca podemos esquecer das pessoas que estão tristes nessa data por terem nada e quererem muito. É engraçado também ver a hipocrisia de certos relacionamentos, sabe? Tipo aquela pessoa que todo dia reclama que o parceiro (a) não a deixa sair com os amigos e se ela fica dois minutos fora o parceiro (a) já está ligando pra todo mundo para saber como ela está. Ela mais reclama do que fala bem do parceiro (a), mas quando chega o dia dos namorados a pessoa ainda lança a frase para os amigos ou colegas de trabalho: “É, agora ainda chega essa data de merda que tem que comprar presente e fazer agrado ainda...”.
            Meu... Por que você faz isso? Qual é o objetivo? Manter um relacionamento que você desaprova em todos os aspectos? Manter uma relação sexual com alguém que não te faz feliz? O sexo é TÃO BOM assim? Quem você está tentando enganar? Esse é um quadro que se vê muito no mundo todo! Tanta gente querendo ser feliz com alguém e o mundo mostra essas atrocidades...
            E por falar em gente querendo ser feliz, vamos as pessoas que queriam comemorar a data. É cruel, vou te dizer... Quando você está solteiro e não quer estar, parece que o mundo inteiro está namorando e só você está desperdiçando sua vida fazendo nada nessa data. Dependendo do dia da semana que a data cai, você está pensando em fazer alguma coisa com seus amigos, ou sei lá... Pode ser um final de semana e você quer sair para fazer alguma coisa, mas adivinha só? Você não vai sair, pois todos estão namorando. E nem pense em ir no cinema, assistir aquele filme que você tanto queria, sozinho pois o cinema vai estar mais lotado do que o mundo com namorados! E eles vão estar bem ao seu lado fazendo o que você preferiria estar fazendo naquele dia!
            Eu não preciso falar das pessoas que tem seus parceiros nesta data especial pois as propagandas e o conhecimento popular fala por si só... Por isso vamos para outro ponto terrível do dia: Pessoas que terminam relacionamentos no Dia dos Namorados. Rapaz... quer coisa mais cruel? Uma coisa é você estar solteiro já faz um tempo e não ter com quem passar o dia, agora é horrível você estar todo esperançoso e ansioso por presentes, por passar aquele tempo de qualidade com a pessoa que você está gostando tanto e aí de repente, você passa a noite chorando por que alguém estava infeliz com a coisa todo e decidiu acabar com tudo. As pessoas fazem isso por crueldade? Não. É por que não querem mais machucar a pessoa que está ao lado e mais um monte de razões que são nobres. Mas tente explicar isso para a pessoa que está sendo terminada...
            Tem também aquelas pessoas que falam que estão bem melhor solteiras. Que nunca estiveram tão bem na vida. Que é agora que a coisa vai começar. É agora que o mundo é dela. Agora todos vão vê-la cantar, dançar e curtir a vida. Você se sente assim de verdade? Ou é só uma máscara para ninguém ver que você é tão infeliz quanto aqueles que tudo que querem hoje é aquela pessoa especial?
            Enfim... Uma data muito variada, acho. Qual destas pessoas é você no momento?

"O Dia dos Namorados é uma data no mínimo... Estranha"


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Superação


            A tarde estava bem agradável no Café do Geléia. Não estava muito quente lá fora e a recente chuva havia trazido consigo uma boa umidade para o ar e uma brisa bem refrescante que, combinada com as cores e sons da cidade, davam um clima bem peculiar e relaxante para os clientes do café.
            Geléia estava na porta do estabelecimento apreciando um de seus fumos doces de cachimbo (Um hábito que havia adquirido a pouco) e observando a rua bem iluminada pelo sol poente a sua frente. O som molhado dos pneus dos carros na rua era uma melodia urbana única e relaxante apenas para aqueles que gostam de verdade da vida tumultuada na cidade. Enquanto tentava soltar anéis de fumaça em sua porta, Geléia viu o carteiro se aproximando, desta vez mais tarde do que de costume.
            - Boa tarde, Geléia! – Disse com um sorriso jovial.
            - Boa tarde. Sem muita correspondência, imagino...
            - Na verdade desta vez o senhor tem algumas... Aqui estão. – E entregou um pacote junto de algumas cartas para o gerente, que agradeceu e entrou no café, segurando o cachimbo com os dentes.
            Geléia colocou sua correspondência no balcão e começou a abri-la. Contas. Um livro encomendado pela internet (Geléia havia começado a usar banda larga a pouco tempo e estava adorando. Seu bolso não gostava muito da idéia). Algumas cartas de pessoas conhecidas e queridas e outras de pessoas cujas presenças não faziam muita diferença na vida do gordo. Mas então uma carta se sobressaiu entre as outras... Um papel simples, sem remetente, um pouco amassado e com uma coloração meio amarelada pelo tempo.
            O gerente analisou o envelope por um instante e, deixando todo o resto da correspondência de lado, começou a abrir a carta misteriosa. Era uma folha de caderno um pouco mais grossa que o comum e sem pautas. Estava muito bem dobrada e sua superfície era bem lisa. Geléia começou a ler o manuscrito:
           
“ Saudações, Geléia...
            O senhor não me conhece pessoalmente, mas eu já o vi em algumas pouquíssimas ocasiões. Imagino que não se lembraria de mim, considerando o número de clientes que o senhor atende todos os dias. Lhe envio esta carta como um agradecimento.
            Sabe, faz poucos meses que frequentei o seu café pela última vez. Devo lhe parabenizar pelo clima agradável que proporciona a todos os que passam por aí. Seu estabelecimento é como um lar fora de casa. Algo mágico. Mas enfim, quando fui ao seu café pela primeira vez, eu estava abalado com um relacionamento recente... com problemas de saúde também e, por mais que eu tentasse, eu não consegui aproveitar a atmosfera que você, como todo carinho do mundo, queria proporcionar. Eu estava desmoronando e lugar nenhum podia impedir o sentimento...
            Mas depois eu fui visitar o local de novo. Sem a menor intenção. Eu estava andando sem rumo e parei em um café. Qual foi a minha surpresa ao descobrir que aquele café era o seu, Geléia. Mas o local me trazia memórias ruins, daquela outra vez em que me sentia em pedaços e logo saí correndo de lá... Sinto muito por isso...
O tempo passou e minha depressão foi sumindo (Com ajuda de muita terapia e de amigos agora muito próximos). Um dia resolvi voltar ao café. E foi lá que eu vi a magia. As pessoas conversavam entre si como grandes amigos reunidos em uma casa. Podiam conversar sobre o que quisessem e o aroma do café era quase o aroma de um lar. Era possível ver que o lugar abrigava a todos... Artistas, mochileiros, alternativos, idosos misteriosos e até pessoas que pareciam vir de outras épocas... Mas principalmente, você abriga aqueles que não tem para onde voltar.
            É meu amigo... Eu vi que minha carta de alguma forma chegou às suas mãos e logo foi parar em sua parede como parte de sua decoração. Por isso vim lhe agradecer. Você deu um lar às minhas palavras e me fez perceber que eu também tenho um lar.
            Ah, você deve estar curioso... Sim, ela foi me visitar. Mas só depois de muitas lágrimas percebemos que somos altamente contrastantes e que nossa relação não teria dado certo. É triste, eu sei... Mas não podemos forçar algo que nunca daria certo não é mesmo?

            Enfim, obrigado por me proporcionar um nova perspectiva de vida, amigo!
            Lhe desejo tudo de bom! Para você e todos que visitarem seu formidável Café.
           
            Um abraço a quem puder interessar!”

            Geléia terminou de ler e abriu um grande sorriso. Seu sonho estava dando certo e ele finalmente proporcionava aquilo que sempre quis proporcionar aos clientes.
            Viras chegou dos fundos, arfando, e Geléia abaixou para fazer um pouco de carinho no vira-latas.
            - Sabe, amigo? – Disse por fim – Eu nunca achei que o simples gesto de servir um bom café me traria tanto conforto.
            Olhando para a carta o gerente concluiu:
            - Acho que só precisamos de conforto para saber superar muitos problemas.

"Era uma folha de caderno um pouco mais grossa que o comum e sem pautas."
Para melhor entender este texto, leia o conto A Quem Possa Interessar...