O "Café do Geléia", fundado por Giovanni Di PaZZo, começou como um pequeno café na esquina da rua Orlontis com a rua Coronel Verde. Servindo apenas poucas variações do simples café o lugar foi ganhando fama devido ao seu ambiente altamente aconchegante contendo fotos de viagens feitas pelo "Geléia" (apelido carinhoso de Giovanni), relíquias e artefatos adquiridos em suas diversas aventuras pelo mundo em busca do melhor café que existia. Certo ano, Giovanni conseguiu por métodos misteriosos o melhor café que os que ali passavam já haviam provado e começou a plantá-lo e serví-lo em seu pouco famoso "Café do Geléia". O lugar ganhou fama pelo seu café fabuloso e pelo ambiente que sugeria um conto de histórias entre amigos. Agora vivemos estas histórias... Bem vindos ao "Café do Geléia".

quarta-feira, 17 de julho de 2013

L(s)er


            A palavra é uma dádiva por si só. O poder de expressar seu sentimentos em sons interpretados de forma coerente (ou não) pelos cérebros alheios é algo simples, porém impressionante. Mas a palavra é uma fonte de poder maior ainda se esta for escrita, passada para um papel, parede, rocha ou o que quer que seja o material. A palavra escrita é a maior invenção da humanidade.
            Eu gostaria de poder dizer no começo deste texto que todo ser humano pode e gosta de ler, mas por questões sociais absurdas isso não é verdade. Depois de rabiscar desenhos incoerentes em folhas em branco, aprender a amontoar blocos e quebrar brinquedos, ler é a primeira coisa que um ser humano aprende. Você desde muito jovem precisa aprender a ler e escrever para poder expressar e compreender o poder da palavra passado pelas gerações. As palavras escritas são como os ingredientes para um feitiço que, quando bem elaborado e misturado causa efeitos diversos nas imaginações de quem o interpretar.
            Eu sinceramente não compreendo como certas pessoas podem dizer que “Não gostam de ler”. Como isso é possível? Pelos meus poucos anos de vivência entre a raça humana eu posso confirmar uma coisa: Muitos gostariam de ser outra coisa. Desde um motorista de ônibus querendo ser engenheiro, até aquele garoto recluso que adoraria ser um super-herói ou capitão de uma nave espacial. Certos desejos e vontades são impossíveis, mas o imaginário coletivo e a capacidade de transcrever sentimentos em escrita torna esses desejos possíveis! Não me considero um devorador de livros como certas pessoas que conheço, mas já li bons volumes para poder falar a respeito de autores e estórias e devo afirmar que foram as melhores experiências que tive sozinho!
            Considerando este tema todo, posso dizer que já fui muitas coisas nessa vida. Certa vez fui um cavaleiro. Um reino estava em guerra e eu fazia parte daquilo tudo. Quando nesse papel, eu podia sentir, no virar de páginas, a emoção de batalhas! Juro que em certas batalhas das muitas lutadas eu podia ouvir os gritos de homens que morriam, os gritos de vitória, os gritos de comando e o estrondo de escudos se chocando. Posso afirmar que já comandei uma equipe de lanceiros iguais a mim e posso jurar pelos deuses que acreditei que aqueles eram como irmãos ao meu lado. Poderia recontar guerras, feitos heróicos, traições, invejas e erros de conterrâneos e invasores do reino e, pelos deuses, posso até descrever meu casamento com a mais bela princesa daquela terra.
            É graças a palavra escrita que também posso dizer aqui, escrevendo, que já fui um detetive. Me diga: quantos detetives vocês conhecem? Eu pessoalmente não conheço um sequer, mas posso afirmar que fui um muito diferente de todos. Este detetive vinha de um mundo onde se podia transitar entre o planeta Terra e a Lua. A missão que fiz parte envolvia o assassinato sangrento de um figurão nas mãos de androides, réplicas quase perfeitas de um humano. Eu encontrei repórteres gostosonas (e tive um caso com uma), clones encomendados por megacorporações, assassinos enviados pela mesma para impedir minha investigação e até aprendi um pouco de astrofísica enquanto estava no trabalho. Como toda boa estória de detetive durão, ela não acabou bem. Mas foi uma grande experiência que me deu a vontade de partir para outras.
            Um livro na mão é como um mundo inteiro encadernado em couro ou papelão barato. É um mundo inteiro que você leva por aí. São pessoas novas que você conhece profundamente sem nunca ouvir as vozes delas... E o mais interessante, é que ao mesmo tempo que você passa por estas experiências sozinho, você pode conhecer pessoas que compartilham da mesma, mesmo nunca estando lá com você! E, se a aventura for boa de verdade, tenho certeza que será um prazer conversar sobre ela durante muitos anos com as pessoas que também a viveram.
            Se depois de tudo isso que foi escrito aqui, usando a magia das palavras, você não tem vontade de sair daí e ler um livro e ser alguém diferente de si... Por favor, me explique como é possível você não gostar de experiências fantásticas como estas descritas.

"[...] posso dizer que já fui muitas coisas nessa vida."